terça-feira, 22 de junho de 2010

DICAS DE PORTUGUÊS

Perguntas rápidas. Respostas ligeiras
 
Ter dúvidas é natural como o suceder do dia e da noite. Quem lê ou escreve acorda de sono linguístico. Desperto, sente-se provocado. E, como é gente de carne, osso e nervos, reage. Duvida de palavras. Questiona estruturas. Analisa a eficácia da mensagem. As respostas não são exclusividade desta ou daquela fonte. Dicionários, gramáticas, manuais de estilo, familiares, amigos podem aliviar o sufoco. Mas nem sempre tão preciosas criaturas estão pertinho, disponíveis.
O jeito? É dar um jeito. Um deles: apelar para as Dicas de Português. As questões são pra lá de bem-vindas. Elas pautam a coluna, que lhes estende tapete vermelho e as recepciona com banda de música. Senhoras e senhores, com vocês, encucações que roubam o sono de grandões e pequeninos.

Dose multiplicada?
 
Eleições deixam todos de olho nos avanços e recuos dos candidatos. Os ibopes da vida ganham destaque porque fazem pesquisas. Ops! Levantamentos lidam com percentagens. "Como tratá-las?", quer saber João Rafinha.
Com elas, todo o cuidado é pouco. Por questão de clareza, o sinal % aparece em dose dupla, tripla, quádrupla etc. e tal: Dilma ultrapassou Serra em 3% ou 4%. Os servidores pedem aumento variados: 10%, 11,5%, 18%. O índice de aprovação no concurso oscila entre 23% e 35%.
Olho vivo! O mesmo vale para as abreviaturas: No fim de semana, rodou de 240km a 300km. Estudo das 8h às 18h. Compre de 3kg a 5kg de batata. Ninguém sabe o preço exato da campanha. Os palpites começam nos R$ 2 milhões, passam pelos R$ 3,5 milhões e chegam aos R$ 5 milhões.
 
Vício antigo

Marcos Cobra vive com dor de ouvido. Compra que compra remédio pra otite. Mas os medicamentos estão pela hora da morte. E o dinheiro encurtou. "O problema", diz ele, "não é da alçada do otorrino. Pertence ao universo da prosódia. Muita gente pronuncia o à como se fossem dois aa (vou a a praia). Pode estar certo. Mas maltrata os tímpanos".
São manhas da escola antiga. No ditado, os professores pronunciavam dois aa para os alunos se darem conta da crase. Era um truque. Virou vício. Corra dele, Marcos! Corramos todos! Xô!
 
Que tal em casa?
 
"Uma coisa me intriga", escreve o Moacyr Cunha Neto. "Qual a forma certa - entrega em domicílio ou a domicílio? Já fui repreendido por falar `a domicílio´, mas cartazes e anúncios de casas renomadas usam essa forma. E daí?"
Moacyr, recorra à analogia. Você emprega "entrega" em outros contextos, não? Entrega em escolas, em hospitais, em shoppings. Por que domicílio seria diferente? A polissílaba não goza de privilégios. Entregue em domicílio. Melhor: seja simples como as crianças. Entregue em casa.
 
Vez ou vezes?
 
Nelson é bancário e professor de finanças na universidade. Uma dúvida o atormenta há tempos. Ele explica: "Existe um índice da análise financeira que demonstra o número de vezes que um ativo foitransformado em receita. Quando o índice for, por exemplo, 1,86, como eu falo: 1,86 vez ou 1,86 vezes?
Vez joga no time de milhão, bilhão e aparentados. O nome concorda com o número que aparece antes da vírgula. Se for menos de 2, o singular pede passagem. A partir de 2, o plural: 1,86 vez, 3,12 vezes; 1,52 milhão, 10,13 milhões; 1,05 bilhão, 5,18 bilhões.
 
Habilidades e treinos
 
Lia, professora da rede pública de ensino, convive com velha e conhecida realidade. Boa parte dos alunos escrevem mal. Falta-lhes desenvoltura na exposição das ideias. "Por quê?", pergunta ela.
Há muitas razões. Uma delas: pouco convívio com a escrita - lemos pouco (1,8 livro por ano; na França, 5) e escrevemos pouco. O sistema escolar precário oferece pouca oportunidade de redigir (média: 4 redações anuais).
Ler e escrever são habilidades. Como nadar, correr ou digitar, desenvolvem-se com treino. Cesar Cielo não é campeão porque fica na frente da TV vendo os outros disputarem milésimos de segundos na água. Ele pratica 15 horas por dia. A secretária digita 400 toques por minuto porque desafia o teclado há anos. Atletas correm 100m em um minuto porque testam os limites todos os dias.
Lê-se e escreve-se bem quando se lê e se escreve muito e sempre. Jornalista conclui reportagem de duas páginas em uma hora porque faz isso todos os dias desde tempos idos e vividos. Quando se lê, internalizam-se as estruturas da língua. Quando se escreve, desinibem-se a mão e a cabeça. As ideias correm soltas. A mão acompanha. O trabalho de reescrever e refazer é consequência natural.
 
Recado
 
"Fui lá mais uma vez. Lá, que pequena e perversa palavra a abrigar tão distantes longes."
T.M. Castro, escritor.








sábado, 19 de junho de 2010

MORRE JOSÉ SARAMAGO

Morreu no último dia 18 o escritor português José Saramago, aos 87 anos, em Lanzarotte, nas Ilhas Canárias. Autor de 16 romances, foi com um deles, Ensaio Sobre a Cegueira, de 1995, que Saramago ganhou o Nobel de Literatura.
Entre a sua extensa bibliografia, estão, além do livro que lhe rendeu o Nobel, clássicos da literatura ocidental como A Jangada de Pedra, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, As Intermitências da Morte, entre outros. Saramago sempre recheou seus livros com duas características muito marcantes: a análise do homem e a crítica à sociedade. Longe do viés panfletário que essas duas características podem emanar, os livros de Saramago eram, essencialmente, cheios de poesia e lirismo.
Essa poesia e lirismo sobre a análise do homem e a crítica à sociedade começaram a aparecer, em drops, no Caderno de Saramago, blog que o autor fundou em 2008 e que passou a alimentar esporadicamente com trechos de escritos antigos [artigos, contos, ensaios] e com comentários sobre o cenário que o rodeava, as últimas impressões sobre o pensar e agir humanos. Em 2009, um compilado dos textos do blog foi publicado sob o título de O Caderno.
Ainda lembro de um especial do Jornal da Globo que entrevistava Saramago sobre a morte. Era muito tarde de uma noite fria e ouvir aquele homem de cabelos brancos, de palavras rápidas e raras, falando sobre os cheiros da infância, eternos na lembrança, sobre as certezas que o tempo trazia e, entre elas, claro, a morte era uma das mais vigorosas.
E agora ela chegou para Saramago. Que o cheiro das oliveiras o acompanhe, amém.

Saramago publicou os seguintes romances:
Terra do Pecado [1947], Manual de Pintura e Caligrafia [1977], Levantado do Chão [1980], Memorial do Convento [1982], O Ano da Morte de Ricardo Reis [1984], A Jangada de Pedra [1986], História do Cerco de Lisboa [1989], O Evangelho Segundo Jesus Cristo [1991], Ensaio Sobre a Cegueira [1995], Todos os Nomes [1997], A Caverna [2000], O Homem Duplicado [2002], Ensaio Sobre a Lucidez [2004], As Intermitências da Morte [2005], A Viagem do Elefante [2008] e Caim [2009].

quarta-feira, 16 de junho de 2010

PRIMEIROS PASSOS

Seria necessário fazer algo para caracterizar-se como a “primeira postagem” do meu blog. E a inspiração? Então pensei: “Vou falar de algo que está em voga, como por exemplo, falar sobre o estranhamento que está causando as diretrizes do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, onde alguns preferem chamar de Reforma Ortográfica”.Então, quem hoje se aflige ao escrever a palavra fase em lugar de phase? Ou ortografia em lugar de orthografhia? O consenso é de que o resultado dessas alterações, no início do século passado, foi benéfico, pois simplificou o registro escrito da língua, tornando-o mais fonético e menos etimológico. Porém, o histórico das reformas ortográficas da língua portuguesa aponta para a existência de restrições sempre que se estabelecem modificações na grafia das palavras.
É importante ressaltar o fato de que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, em vigor no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2009, afeta apenas 2,1% do total das palavras da língua. Desse total, no Brasil, as mudanças ocorrem em 0,5%; em Portugal, esse índice é de 1,6%.
O período histórico de uma língua começa no momento em que passam a existir seus registros escritos. Na língua portuguesa, esse período teve início no século XIII e estende-se até hoje.
Particularmente, vou sentir falta da escrita de algumas palavras, como por exemplo, “qüinqüelíngüe”. Uso abundante de tremas e ainda um acento agudo.
Em próximas postagens trarei as principais novidades dessa nova maneira de enxergar a escrita das palavras.